A performance “Jesus Não Branco” discute por que a figura máxima do cristianismo é tão vastamente representada como um homem branco, europeu, quando ele terá sido um homem asiático, mesopotâmico, do Oriente Médio. Sem entrar no mérito de saber se Jesus Cristo foi negro, pardo ou branco a peça discute onde estão os negros nas representações artísticas e culturais do Ocidente.
Apresentada por Tamires Francisco e Everton Kaian, a performance discute como o apagamento e a não visibilidade/representatividade dos negros na arte e na cultura corroboram para o apagamento de sua identidade e sobre como isso contribui para a construção da noção de supremacia branca. A ausência de representatividade artística e cultural funda uma crise identitária grave, fonte de desconforto, angústia e das mais diversas formas de violência.
Para a pesquisadora Megg Rayara Gomes, “não seria possível escrever a história econômica, política, legal, da saúde, educacional – de todas as instituições – sem colocar a política da branquidade tanto consciente quanto inconscientemente como uma dinâmica central.” Outra pesquisadora do tema, Julia Cristina de Lima Costa, anota em sua dissertação de mestrado: “não se pode decompor a história da sociedade brasileira da história da religião, especificamente quando se examinam as relações estabelecidas entre a Igreja Católica e os negros no período colonial brasileiro".
Nesse quadrante, “Jesus Não Branco” nos faz perguntar: como o corpo preto poderia ascender ao divino? Para responder, os atores dialogam em cena sobre a fragmentação de seus corpos em meio à avassaladora produção de conteúdos não representativos da negritude que povoam as questões de gênero, raça, classe, e religiosidade, sobretudo no Brasil.
O espetáculo entrar no ar neste sábado, 27 de novembro, às 10h00, no link abaixo:
Ficha Técnica - Everton Kaian: concepção, texto e performance;
- Karina de Paula Vilas Boas: gravação;
- Tamires Francisco: concepção, edição de vídeo, sonoplastia e performance;
- Apoio: Cia Aquarela.
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